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Educação e Informação

Do Brooklyn a Marte, como as mulheres estão transformando a construção civil

Além das mudanças educacionais e profissionais, a tecnologia também foi fundamental na inclusão das mulheres na construção civil.


Por Paola Regazoni Torquato, Diretora Executiva da SteelAcademy


Historicamente, a construção civil tem sido vista como uma área predominantemente masculina, com poucas oportunidades para as mulheres. No entanto, a contribuição feminina no setor é fundamental desde os tempos mais remotos. No Egito Antigo, por exemplo, há registros de mulheres trabalhando em projetos de construção de monumentos, embora suas contribuições fossem raramente reconhecidas publicamente. Da mesma forma, na Idade Média, as mulheres frequentemente ajudavam em obras de construção de catedrais e castelos, mas seus trabalhos eram considerados extensão das responsabilidades domésticas.  


Foi apenas no período de transição entre o século XIX e o XX que a participação das mulheres na construção civil começou a se tornar mais visível e reconhecida. Um exemplo transformador da atuação feminina na construção civil neste período é o de Emily Warren Roebling, que teve um papel decisivo na construção da Ponte do Brooklyn. Após seu marido, o engenheiro-chefe, ficar incapacitado, Emily assumiu a supervisão do projeto, gerenciando todas as comunicações e tomando decisões técnicas vitais. Sua dedicação e conhecimento técnico foram essenciais para a conclusão bem-sucedida da ponte, um marco da engenharia e da construção civil.  


Por sua vez, Sarah Guppy, inventora e engenheira britânica do século XIX, desenvolveu projetos inovadores para pontes e equipamentos de construção. Seu trabalho pioneiro inclui a patente de um método de construção de pontes que ajudou na edificação de várias estruturas importantes na Inglaterra. 


Século XX e revolução feminina na construção 

Durante as Guerras Mundiais, a escassez de mão de obra masculina devido à convocação para o combate levou muitas mulheres a entrar em setores industriais e de construção. Nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra, a icônica imagem de “Rosie the Riveter” simbolizava as mulheres que assumiram empregos em fábricas e canteiros de obras, desafiando os estereótipos de gênero e mostrando que podiam desempenhar tarefas tradicionalmente masculinas com competência e eficiência.  


Após a guerra, elas foram incentivadas a retornar ao lar, mas o impacto de sua participação no mercado de trabalho permaneceu. Nas décadas seguintes, movimentos feministas e mudanças nas legislações trabalhistas começaram a abrir mais oportunidades para as mulheres em diversas profissões, incluindo a construção civil. Nos anos 1960 e 1970, a luta por direitos iguais e a crescente conscientização sobre a importância da diversidade no local de trabalho impulsionaram a entrada feminina em diversos setores. 


No Brasil, um dos nomes mais icônicos desse período é Lina Bo Bardi, uma arquiteta e designer ítalo-brasileira que se destacou por seu trabalho inovador e visionário. Nascida na Itália, Lina se mudou para o Brasil em 1946, onde deixou uma marca indelével na arquitetura. Ela se destacou por seu estilo moderno e pela capacidade de integrar elementos da cultura e do artesanato brasileiro em seus projetos. 


Lina Bo Bardi é amplamente reconhecida por seu projeto do Museu de Arte de São Paulo (MASP), inaugurado em 1968. O MASP é famoso por sua estrutura ousada, com um vão livre de 74 metros sustentado por quatro pilares, criando um espaço aberto sob o edifício que se tornou um marco na arquitetura moderna. Este projeto não só desafiou as convenções arquitetônicas da época, mas também simbolizou a capacidade das mulheres de inovar e liderar em um campo predominantemente masculino. 


Tecnologia e inovação 

Outro marco importante da participação feminina na construção civil brasileira e mundial foi a introdução de programas de formação profissional e incentivos governamentais destinados a atrair mais mulheres para a indústria. Nos anos 1980 e 1990, muitos países começaram a implementar políticas de ação afirmativa e a criar organizações dedicadas a apoiar mulheres na construção. Nos Estados Unidos, a fundação da National Association of Women in Construction (NAWIC), em 1955, foi um passo significativo para a criação de uma rede de apoio e recursos para mulheres no setor.  


Outro exemplo da transformação que as mulheres impulsionaram na construção civil vem de Zaha Hadid, arquiteta iraquiano-britânica que revolucionou o segmento com suas estruturas futuristas e inovadoras. Conhecida como “a Rainha da Curva”, Hadid projetou edifícios icônicos ao redor do mundo, como o Centro Aquático de Londres e o Museu MAXXI em Roma. Sua visão ousada e sua capacidade de desafiar as normas tradicionais da arquitetura não só a destacaram como uma das maiores arquitetas de sua geração, mas também abriram portas para outras mulheres na indústria.  


Com o passar dos anos, as mulheres começaram a se destacar em diferentes áreas da construção civil, desde operárias e técnicas até executivas. A presença feminina cresceu consideravelmente em profissões como arquitetura e engenharia civil, onde elas trouxeram novas perspectivas e abordagens. As universidades também começaram a ver um aumento no número de mulheres matriculadas nesses cursos, refletindo uma mudança na percepção e nas aspirações de carreira das jovens. 

 

Além das mudanças educacionais e profissionais, a tecnologia também foi fundamental na inclusão das mulheres na construção civil. A automação e a digitalização de muitos processos de construção reduziram a necessidade de força física bruta, permitindo que mais mulheres participassem de tarefas antes consideradas exclusivas dos homens. Ferramentas avançadas de design, como o BIM (Building Information Modeling), e o uso de drones para inspeções e mapeamento de terrenos abriram novas oportunidades para mulheres com habilidades em tecnologia e inovação. 


Mulheres como Sarah Billington, professora de Engenharia Civil na Universidade de Stanford, estão revolucionando a maneira como utilizamos a tecnologia na construção. Billington desenvolve materiais de construção sustentáveis e práticas ecológicas que otimizam o design e a construção de edifícios. Seu trabalho ajuda a reduzir custos, melhorar a eficiência energética e minimizar o impacto ambiental, contribuindo para um futuro mais sustentável na engenharia civil.  


No planeta Terra e além dele 

Além das inovações técnicas, as mulheres também estão liderando iniciativas que promovem a sustentabilidade e a responsabilidade social na construção. Mary-Anne Bowring, fundadora e CEO de uma das principais consultorias de construção sustentável no Reino Unido, tem trabalhado para integrar práticas sustentáveis em projetos de construção em todo o mundo.   


A presença feminina na construção civil continua a crescer, com mulheres ocupando posições de liderança e promovendo mudanças importantes na indústria. Com uma força de trabalho mais diversificada, a construção civil pode enfrentar os desafios do futuro com maior criatividade e resiliência. As mulheres estão trazendo novas ideias, abordagens inovadoras e uma perspectiva única, que está ajudando a transformar a maneira como construímos e projetamos nosso mundo e até mesmo um novo mundo, em outros planetas. 


Com os avanços tecnológicos e científicos, a possibilidade de colonizar outros planetas, como Marte, tornou-se um objetivo tangível. Programas espaciais como o Mars One, o SpaceX Mars Program e o Artemis da NASA estão ativamente trabalhando para enviar seres humanos a Marte e além. As mulheres estão na vanguarda desses esforços, contribuindo de maneiras significativas para o sucesso desses projetos. 


Uma das figuras mais importantes na preparação para missões a Marte é a cientista planetária Dra. Jennifer Eigenbrode, do Goddard Space Flight Center da NASA. Seu trabalho em astrobiologia e a busca por sinais de vida em Marte são cruciais para entender as condições do planeta e preparar o caminho para futuras colônias humanas. Mulheres como Eigenbrode estão liderando pesquisas sobre habitação e construções em Marte, incluindo o estudo de recursos naturais, como água e minerais, que serão vitais para sustentar a vida humana e erguer estruturas físicas. 


A engenheira aeroespacial Gwynne Shotwell, presidente e COO da SpaceX, é outra figura central na exploração espacial moderna. Sob sua liderança, a SpaceX desenvolveu e lançou o foguete Falcon Heavy e a espaçonave Dragon, ambos componentes essenciais para futuras missões tripuladas a Marte. Shotwell tem sido uma defensora ardente da inclusão de mulheres na engenharia aeroespacial e na liderança de projetos espaciais, demonstrando que a diversidade é um fator-chave para a inovação e o sucesso. 


Na arquitetura e no design de habitats espaciais, as mulheres estão igualmente envolvidas. A arquiteta italiana Valentina Sumini, em colaboração com a agência espacial italiana, tem explorado a criação de habitats sustentáveis em Marte, utilizando materiais disponíveis no planeta, como regolito. Seu trabalho destaca a importância de considerar a sustentabilidade e a utilização de recursos locais na construção de colônias fora da Terra. 


Dessa forma, percebe-se que a história demonstra que a inclusão de mulheres na construção é indispensável na criação de uma indústria mais justa, equitativa e progressista, que vise preservar e construir a vida na Terra e além dela.


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