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  Metodologias Ativas e Interativas Potencializadas Pela Tecnologia

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Metodologia é o “como” se faz o currículo acontecer na escola. É a organização de situações de aprendizagem que sejam coerentes com a concepção de ensino constante no projeto pedagógico. É a promoção de experiências significativas do conteúdo escolar, vivenciadas numa construção de competências. As metodologias são abordagens conceituais mais amplas, que integram as estratégias, que, por sua vez, podem ser constituídas de partes menores como táticas, técnicas (maneira), procedimentos, dinâmicas (movimentos) e atividades. Mas como então escolher a melhor metodologia à formação dos estudantes?

Nesse artigo abordaremos seis variáveis que devem ser observadas para a organização metodológica da prática educativa de sua escola.

A primeira é o reconhecimento da concepção de aprendizagem, que pode ser, numa ênfase mais tradicional de transmissão de conteúdos; behaviorista, que considera o ser humano como produto do meio e, assim realiza a modelagem de comportamentos; humanista, centrado no aluno, valorizando a formação da pessoa, a autoaprendizagem, a transmissão significativa e o estímulo à pesquisa; cognitivista que opera a relação sujeito-objeto com as variáveis de inteligência e afetividade, de acordo com as fases de desenvolvimento humano; e a sociointeracionista, que o considera um ser histórico-cultural, busca desenvolver o pensamento e a linguagem, reconhecendo a educação um processo amplo, interativo e com poder de transformação social. A escola deve ter clareza de sua concepção, bem como orientar os seus educadores, nesse sentido.

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A segunda variável é o reconhecimento das contingências socioculturais e a definição do perfil do estudante egresso. O que é que se requer desse cidadão do século XXI, tais como o pensamento crítico, a capacidade de resolução de problemas, a colaboração, a flexibilidade e as habilidades interculturais (PNUD). Isso deve orientar a atualização da proposta educativa.

A terceira é a organização e gestão de seu currículo escolar. É, antes, reconhecer a trilha, o percurso formativo dos estudantes, afinal, currículo é “pista de corrida”. A BNCC legaliza uma referência curricular, como plano normativo, e orienta às escolas a tarefa de realizar a gestão de seu currículo e das aprendizagens. A metodologia é um elemento desse composto curricular.

A quarta variável é a organização de seus espaços de aprendizagem, reconhecendo-os como a soma de ambientes internos e externos à escola. Na escola, tem-se as quadras, os laboratórios, as salas de aula. Uma sala com carteiras alinhadas promove uma boa educação de transmissão de conteúdos, passiva; carteiras em semicírculos possibilitam o reconhecimento das pessoas e promove a interação; já os mobiliários diferenciados e modulados favorecem os arranjos e combinações para trabalhos em grupo. Aprendizagens, contudo, não se restringem à escola e podem ser igualmente identificados espaços como museus, teatros, cozinhas, comércios, espaços públicos, dentre outros. É a cidade mobilizada à educação e, também, recebendo a intervenção prática de cidadãos respeitosos, como agentes de sua transformação.

A quinta variável é a correspondência entre os objetos de conhecimento do currículo e a escolha de uma estratégia didático-pedagógica que seja potente na contribuição formativa dos educandos. Para a definição de uma estratégia deve-se perguntar ao conhecimento: “como se aprende / se desenvolve isso”? Se o objeto é aplicado, a estratégia deve promover a aplicação, se é uma resolução de problema, deve-se então problematizar, se busca o desenvolvimento de leitura ou de se realizar um salto, deve-se, portanto, ler ou saltar. Sendo assim, nem sempre a clássica escolha de “aula expositiva dialogada” se faz pertinente.

Nesta variável ainda deve-se observar o quanto a dinâmica proposta requer da participação coletiva ou de uma organização individual para o trabalho a ser desenvolvido. Se mobilizar o sujeito à ação, um engajamento à dinâmica do pensar, fazer, sentir, nomina-se de metodologia ATIVA. Se mobilizar o sujeito à essa mesma dinâmica, de maneira coletiva, numa interação com o outro, nomino-a de metodologia INTER-ATIVA. Se, contudo, a ação prática de exposição, aplicação e síntese foi do professor, nesse caso nomina-se de metodologia PASSIVA.

Há potentes estratégias ativas e interativas, tais como: sala de aula invertida, tutoria de pares (peer tutoring), aprendizagem baseada em projetos ou baseada em problemas (pbl), aprendizagem baseada em times (tbl), por contação de histórias (storytelling), mapa conceitual (bricolage), grupos focais, roteiros de estudo, comunidades de aprendizagem e outros. Alguns estágios de uma metodologia ativa podem também considerar a problematização, contextualização, interação, interlocução, aplicação e consolidação.

Para escolher as estratégias, deve-se, portanto, possuir um conhecimento profundo do conteúdo que se está trabalhando, da habilidade cognitiva que se pretende ativar, além da relevante contribuição de estudos sobre cognição, apropriação do conhecimento e desenvolvimento de competências.

A última variável que se elenca é o aporte de recursos, com destaque às tecnologias efetivas ao trabalho. Assim, a lista de estratégias se amplia e se potencializa, considerando novas combinações: o ensino híbrido (presencial e tecnológico), a gamificação, as redes sociais de aprendizagem (ou aprendizagem social), “traga os seus próprios dispositivos” (Bring your own devices), estudo com repositórios digitais e suas curadorias, realidade virtual, realidade aumentada, experimentos robóticos, experimentos de simulação, além das crescentes possibilidades com a aplicação de Big data e inteligência artificial para a individualização, diferenciação e personalização das aprendizagens. 

O uso de tecnologia adaptativa é ainda uma estratégia de ajustamento de características do ambiente de aprendizagem. Isso impactará: (a) na forma do consumo de conteúdo – como o conteúdo, texto, gráficos são exibidos, (b) nas trajetórias do estudante oferecendo percursos diferenciados, dependendo da zona de desenvolvimento em que se encontra e (c) na consecução de seus planejamentos e metas. Isso colocará o estudante no que Perrenoud irá chamar de “situação ótima de aprendizagem”.

Sendo assim, falar de tecnologia na escola não é somente pensar em internet, laboratórios e dispositivos, mas, metodologicamente, é operá-la como ferramenta educacional nos aspectos de gestão da aprendizagem e interação ativa.

Que a definição das escolhas metodológicas busque essa promoção de uma prática educativa coerente com a (1) concepção de aprendizagem da escola, com as (2) contingências socioculturais, com a proposta formativa do (3) currículo escolar, com a organização dos (4) espaços de aprendizagem, com a eleição das (5) estratégias didático-pedagógicas e com a aplicação da (6) tecnologia educacional, buscando a conquista da autonomia e da transformação social.

Lilian Neves é Sócia-proprietária da Weleto e foi palestrante do I Fórum EdTech, durante o GEduc 2019.

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