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Educação e Informação

Paredes que Educam: quando as imagens da escola contam sua intencionalidade pedagógica

  • Foto do escritor: HUMUS
    HUMUS
  • há 3 dias
  • 8 min de leitura

As paredes de uma escola dizem muito sobre o que ali se aprende mesmo quando ninguém está falando. Cada cartaz, mural, cor, sinalização ou mesmo espaço de convivência comunica valores, crenças, intenções pedagógicas e a identidade de um projeto educativo a partir de práticas coletivas. Compreender essa linguagem silenciosa, mas potente, é também parte do papel de quem lidera e organiza os processos educativos.


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Nesse sentido, um grupo de Especialistas do Programa SESI de Gestão Escolar participou do curso Gestão Escolar e Pedagógica , promovido pelo Programa SESI de Gestão Escolar (PSGE) do Departamento Nacional, em parceria com a Humus Consultoria Educacional, realizado entre os dias 4 e 6 de junho de 2025, em São Paulo/SP. Um dos aspectos que mais chamou a atenção da Especialista Roseany Diniz (DR Goiás), foi o modo como as paredes e os ambientes das duas escolas visitadas expressavam, de forma clara, o projeto pedagógico que estava em prática. Em cada espaço, era possível observar que o currículo se manifesta visualmente, contando a narrativa pedagógica viva de sua instituição


. A formação proporcionou uma imersão em práticas inovadoras de liderança educacional, por meio de atividades teóricas, visita técnica e troca de experiência com instituições de referência nacional, estivemos no Colégio Bandeirantes e no Colégio Visconde de Porto Seguro. A participação dos Especialistas do PSGE reforçou a importância de uma gestão escolar que, além de eficiente, seja intencional, sensível e comprometida com uma educação que também se expressa pelos espaços que constrói.


Neste artigo propomos uma reflexão sobre como a gestão escolar pode e deve considerar os ambientes como aliados pedagógicos, fazendo com que o projeto educativo esteja visível, vivo e coerente em cada detalhe da escola.


1. Ambientes com narrativas pedagógicas


O espaço escolar fala. Ele traduz escolhas didáticas, relações humanas e o modo como a escola enxerga o estudante.


Nas imagens abaixo podemos refletir sobre como a estética e a organização dos ambientes revelam (ou escondem) o projeto pedagógico em ação e como o olhar atento da liderança pode potencializar essas narrativas visuais e simbólicas.


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Sabemos que há muitas diferenças entre as instituições cada proposta pedagógica revela uma escola que é única, mesmo que ela faça parte de uma rede de ensino, seus resultados nas avaliações e sua trajetória inserida no contexto daquela comunidade local. No entanto, observar como o currículo se materializa de forma transparente é sempre muito interessante.


Para Lourdes Atié (2019) é preciso conversar sobre a intencionalidade pedagógica, quando o

discurso não é compatível com a organização espacial da escola, tudo se perde naquilo que realmente mostra a identidade de cada escola . Outros autores como Vinão Frago e Escolano (apud COSTA, 2023) dizem que as paredes e a arquitetura escolar guardam u ou seja, um currículo oculto, que orienta comportamentos, regula atitudes e produz sentidos sobre o que é aprender.


Essa perspectiva mostra que o ambiente não é um cenário: é parte constitutiva da aprendizagem. O teto baixo ou alto, a disposição dos móveis, os muros que cercam ou espaços que se abrem, as cores que acolhem ou repelem tudo isso fala. Fala de uma concepção de escola, de infância, de juventude, de conhecimento. Deste modo, "as paredes nos situam e nos conformam, guardam... o currículo oculto" de acordo com Frago & Escolano (apud COSTA, 2023).


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Ao levantar os olhos, fomos surpreendidos por um mar suspenso: algas vivas, caranguejos e vegetação marinha dançavam no teto, narrando em silêncio o percurso de uma turma do Ensino Fundamental. Era o currículo ali, pendurado entre fios e ideias, contando com formas e cores o que as crianças viviam e descobriam naquele bimestre. Ao olhar para o chão, uma instalação delicada chamava a atenção gravetos dispostos com intenção poética, nascidos da história de um galho que, ao ser atingido por um raio, deu origem a uma nova narrativa. A

partir dali natureza e imaginação se entrelaçaram, e o trabalho das crianças floresceu em experiências sensoriais, investigativas e profundamente autorais. Impossível que uma pessoa de graveto seja igual a outra.


E é justamente aí que mora a beleza dessa atividade. Tão diferente das produções em série que repetem a mesma árvore ou a mesma casa, todas com as mesmas cores.

Tudo igual como se a infância fosse cópia e não criação.


Os espaços não são neutros eles contam histórias. Os ambientes escolares expressam, de forma concreta, a pedagogia em prática.


Para Atié (2019) desde os murais até a disposição dos móveis, tudo comunica.


O que se vê nas paredes revela muito sobre os valores e prioridades da instituição: há protagonismo estudantil ou culto ao resultado? Estímulo ao pensamento crítico ou reprodução de padrões estéticos enlatados?


A escola que se propõe a educar para a autonomia precisa fazer do ambiente um texto vivo, onde as crianças e jovens leem a si mesmos, enquanto escrevem-se no espaço e veem refletida sua singularidade e potência criadora. "A estruturação do espaço, a forma como os materiais estão organizados, sua qualidade e adequação constituem elementos essenciais de um projeto educativo" segundo o Instituto Avisa Lá (2003).


2. Intencionalidade que acolhe, orienta e educa


A liderança escolar precisa ir além do aspecto administrativo: ela deve comunicar cuidado. A intencionalidade dos ambientes de aprendizagem deve promover pertencimento, segurança e engajamento, especialmente quando há coerência entre o que se diz, o que se faz e o que se revela nos ambientes. A escola contemporânea deve refletir cada vez mais sua intencionalidade, rompendo com o isolamento simbólico que, por vezes, ainda a cerca. É fundamental compreender que os espaços escolares devem expressar valores universais como o direito à diversidade, à convivência e à autonomia. Para isso, é necessário romper fronteiras e integrar-se plenamente ao espaço externo, dialogando com as subjetividades do território e fortalecendo os vínculos com a comunidade ao redor numa relação que precisa ser constante, viva e intencional.


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No Colégio Bandeirantes, fomos acolhidos em um espaço amplo, esteticamente bem cuidado e imponente. Esse ambiente nos comunicava uma identidade clara e intencional. A beleza do local não estava apenas na arquitetura, mas também na forma como os estudantes egressos continuam interagindo com a instituição. Quem nos recebeu para a visita monitorada foram jovens que já haviam concluído o Ensino Médio e que, agora, como universitários, retornam ao colégio na condição de monitores, com o objetivo de certificação de horas no Projeto "Eu fiz Band".


Mais do que apresentar o espaço físico, esses egressos compartilharam memórias

afetivas dos ambientes, do tempo vivido e da admiração por tudo o que experienciaram no colégio que, em 2024, celebrou 80 anos de história marcada por tantos rostos e trajetórias que por ali passaram: falaram do currículo, da rotina pedagógica, das experiências formativas e o fazem com brilho nos olhos, revelando um forte sentimento de pertencimento. Era evidente que o espaço escolar, para eles, ultrapassa a função de abrigo físico e se torna parte da construção de quem são, dos vínculos construídos e de suas identidades.


No Colégio Bandeirantes, fomos acolhidos em um espaço amplo, esteticamente bem cuidado e imponente. Esse ambiente nos comunicava uma identidade clara e intencional. A beleza do local não estava apenas na arquitetura, mas também na forma como os estudantes egressos continuam interagindo com a instituição. Quem nos recebeu para a visita monitorada foram jovens que já haviam concluído o Ensino Médio e que, agora, como universitários, retornam ao colégio na condição de monitores, com o objetivo de certificação de horas no Projeto "Eu fiz Band". Mais do que apresentar o espaço físico, esses egressos compartilharam memórias afetivas dos ambientes, do tempo vivido e da admiração por tudo o que experienciaram no colégio que, em 2024, celebrou 80 anos de história marcada por tantos rostos e trajetórias que por ali passaram: falaram do currículo, da rotina pedagógica, das experiências formativas e o fazem com brilho nos olhos, revelando um forte sentimento de pertencimento. Era evidente que o espaço escolar, para eles, ultrapassa a função de abrigo físico e se torna parte da construção de quem são, dos vínculos construídos e de suas identidades.


O que observamos no Colégio Bandeirantes contrasta com muitas realidades escolares em que os ambientes são segmentados por faixas etárias, impedindo o convívio intergeracional e o reconhecimento mútuo entre os estudantes. Observamos que os estudantes conseguem se comunicar com autonomia, sobre aquilo que aprendeme aprenderam. No Bandeirantes, os jovens demonstram ser protagonistas da própria história escolar narram, interpretam, participam. Isso nos faz pensar que o espaço, quando vivido com intencionalidade pedagógica e afetiva, pode se transformar num instrumento de formação cidadã.


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3. Aprendizagem visível: mais que um conceito, uma cultura


Assim, a ideia de "aprendizagem visível", em que os processos e produções dos estudantes ganham espaço e visibilidade na escola reforça o protagonismo estudantil e ajuda na consolidação de uma cultura de valorização do percurso de aprendizagem, não apenas dos resultados. Essa experiência cotidiana com o espaço interfere em como os estudantes tomam a palavra, ocupam os ambientes, se posicionam e se percebem como cidadãos, afirmam sociólogos franceses como Michel e Monique Pinçon (apud COSTA, 2023).


De forma inspiradora, os aprendizados vivenciados nas visitas ao Colégio Bandeirantes e ao Colégio Visconde de Porto Seguro abriram novas possibilidades de reflexão. Observamos boas práticas na organização dos espaços, no uso intencional das paredes como instrumentos pedagógicos e na coerência estética com os projetos educacionais de cada instituição.


Instalado estrategicamente no corredor do Ensino Fundamental, o Quadro Lego é um recurso acessível a todos, promovendo interação e criatividade nos momentos de espera.


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A Sala de Música apresentava uma variedade de instrumentos. Durante a visita, observamos a professora organizando o material para o atendimento aos estudantes.


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4. Caminhos para a Rede SESI: integrando gestão, estética e intenção pedagógica


O ambiente educativo deve ser intencionalmente pensado para promover o desenvolvimento da autonomia e do protagonismo dos estudantes. À medida que o ambiente é construído com eles, estimulam-se a experimentação, o movimento, a descoberta, a criatividade e a autoria. Na imersão, identificamos inúmeras possibilidades quando olhamos para a realidade da Rede SESI.


Gestores e equipes pedagógicas também podem trilhar o caminho da construção de espaços educativos que dialoguem com o currículo e com uma visão estética cada vez mais inspiradora, transformando os ambientes escolares em espaços vivos de aprendizagem alinhados ao projeto institucional e ao desenvolvimento das altas expectativas de aprendizagem, com base nas competências e habilidades previstas na BNCC.


Entre os caminhos possíveis:

  • Espaços educativos que acolham a diversidade e permitam o conflito criativo, e não a uniformidade plástica;

  • Um olhar para o espaço como elemento de produção da autonomia, não apenas da proteção;

  • Planejamento estético que rejeita a massificação e valoriza a expressão autoral, coletiva e sensível;

  • Investimento em formação docente para a leitura crítica dos ambientes escolares.


SESI Jundiaí: Certificada no PSGE, espaço acolhedor para a Inclusão e Plano de Comunicação visível nos corredores da escola.


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Considerações finais


O que comunicamos quando não estamos falando? Essa é a pergunta que precisamos nos fazer ao caminhar pelos corredores e ambientes de nossas escolas. A proposta dessa reflexão é que possamos, com um olhar sensível e livre de posturas defensivas, mergulhar em uma consciência gestora mais atenta e intencional compreendendo, com clareza, que: tudo comunica.


Ambientes bem-cuidados e esteticamente coerentes com o projeto pedagógico são parte essencial de uma educação que forma não apenas pela palavra, mas também por meio de uma experiência visível, significativa com autonomia e protagonismo.


A partir dos textos articulados neste artigo e da experiência vivida durante a imersão, a resposta se torna inequívoca: a escola comunica sempre e comunica tudo. E o que ela comunica pelas paredes, pelos móveis, pelos fluxos de circulação forma sujeitos. Forma ou deforma. Assim, o desafio da gestão é assegurar que aquilo que está sendo dito silenciosamente seja coerente com a intencionalidade pedagógica: educar sujeitos críticos, autônomos, sensíveis e coletivos. Porque, sim, as paredes educam mas também podem deseducar.


Por isso, promova a autoria dos seus estudantes, acompanhada da mentoria intencional e qualificada dos docentes, para que eles se reconheçam no processo e tenham a certeza de que, nesta escola, se acredita no potencial de cada um. Cabe a nós escolhermos qual mensagem em cada mural, cada instalação no pátio, cada painel na parede está ou deveria estar transmitindo.

 
 
 

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