ARTIGOS
Gestão Educacional
Pesquisadores da Universidade Harvard selecionam colégio de Curitiba para estudo acadêmico
Ação faz parte do curso de mestrado em educação e conta com um brasileiro, dois canadenses e um norte-americano
A aplicação de análise educacional avançada, utilizando algoritmos sofisticados e inteligência artificial, batizada como Multimodal Learning Analytics (MMLA) é atualmente a última fronteira da tecnologia educacional. A opinião é do aluno de mestrado da Universidade Harvard e criador da The Great Schools Platform, Bruno Branco, que está em Curitiba para a condução de uma pesquisa com estudantes do Colégio Santo Anjo, juntamente com outros três alunos da instituição estadunidense. Devido a pandemia, a aplicação da pesquisa será de forma virtual.
“Queria trazer para o Brasil um pouco desse conhecimento que está em desenvolvimento acelerado em vários países”, explica. “E a gente escolheu essa escola em Curitiba, que é premiada pela Microsoft porque usa a tecnologia da educação de forma diferenciada, e também por conta do alto nível de fluência em inglês dos alunos”.
A tecnologia que irão aplicar utiliza algoritmos sofisticados para processar informações colhidas em aulas na busca de padrões de comportamento que são muitas vezes imperceptíveis ao olho humano, mas que acabam influenciando o processo de aprendizado.
Assim, as aulas serão gravadas e depois as imagens serão processadas usando múltiplas ferramentas. “É o que a gente chama de MMLA, que é capaz de capturar diversas informações, como o movimento dos olhos, características da fala dos alunos, estado emocional durante a aula, entre outros, e processa para analisar padrões de aprendizagem.”, afirma Branco. Os sensores de alta frequência (como rastreadores oculares, sensores de movimento) tornaram-se acessíveis e confiáveis, o que está abrindo novas portas para capturar o comportamento dos alunos. Os pesquisadores educacionais agora podem coletar conjuntos de dados significativamente maiores.
Para isso, os pesquisadores (três mestrandos e uma doutoranda) irão dividir estudantes do colégio Santo Anjo em quatro grupos para uma “contação de história”. “Um grupo irá ouvir a história de forma simples. Outros com realidade aumentada, que possibilita o contador aparecer vestido de cavaleiro, ambientado em um cenário medieval, uma forma mais imersiva”, explica.
A pesquisa quer analisar as reações de cada grupo e verificar influências no aprendizado dos estudantes. “É o próprio computador, usando inteligência artificial, que vai tentar identificar determinados padrões. Depois de passar pelo processamento, verificaremos se o uso da realidade aumentada tem impacto sobre o aprendizado do aluno ou não. Isso é importante pois muitas pesquisas qualitativas mostram que quando a gente se emociona durante uma experiência educacional a retenção e a qualidade do aprendizado é maior. Queremos entender se há dados para confirmar isso”, afirma Branco.
A importância desse processo é identificar oportunidades de apoio ao aluno e ao professor para melhorias pedagógicas. “A tecnologia é uma ferramenta, o principal na escola sempre será o professor, o aluno, as pessoas, a comunidade escolar. A tecnologia pode empoderar as pessoas para que busquem as transformações relevantes que nosso país tanto precisa”, analisa Branco. “O sistema pode trazer uma visão complementar, com mais dados, para processos que hoje são essencialmente subjetivos. Existem práticas escolares que chamamos de ‘a Gramática das Escolas’. Coisas que existem sem que ninguém consiga justificar por que, de um ponto de vista científico, como aula de 50 minutos, quantidade determinada de alunos por sala, uma cultura de provas que temos aqui no Brasil, a média 7 para passar de ano. Essa ‘Gramática da Escola’ tem um efeito muito importante na formação do aluno, às vezes para bem e às vezes para mal. E hoje podemos utilizar a tecnologia para cientificamente entendermos quais dessas práticas são realmente adequadas. Não usá-la limita nossa capacidade de melhorar a educação e de elevar o padrão das nossas escolas”, acredita.
Na visão dele, a tecnologia pode lançar luz sobre o processo ensino-aprendizagem e com isso elevar o nível do debate educacional, levando a escola a criar práticas pedagógicas e práticas operacionais melhor adaptadas a seu contexto específico. “É uma tecnologia que tem capacidade de produzir insights para que escola públicas e privadas possam a refletir sobre suas práticas e se engajar em um debate profundo sobre o futuro da educação em nosso país”.
E com a pandemia, Branco vê uma oportunidade de avançar nessa transformação. “Por mais dolorida que seja uma crise, ela traz oportunidades pois esses processos de mudança são difíceis de acontecer se a gente não tem um chacoalhão”, afirma. “Nós não queríamos que essa crise tivesse acontecido, mas ela levou vários setores a se adaptarem e o que eu acho mais relevante nesse processo é que a gente viu a importância, e também as limitações, da tecnologia e isso já é um pequeno avanço”.
Oportunidade para o colégio
Para a diretora geral do Colégio Santo Anjo, Siona Boiko Alves da Silva, a pesquisa é uma grande oportunidade para a instituição. “É um trabalho inédito que nos mostra que a educação exige muita informação do educando. Ao termos acesso aos dados desse estudo teremos oportunidade de melhorar nossa prática pedagógica e o aprendizado de nossos alunos”, acredita.