ARTIGOS
Inovação/Tecnologia
Tecnologia e o redimensionamento da presença e da ausência
Algumas dicotomias podem induzir a análises superficiais ou contribuir para equívocos conceituais na educação. Uma delas é a oposição fácil entre presença e ausência, exemplarmente encontrada na descrição de modalidades educacionais como “educação a distância”, “educação semipresencial e “educação presencial”. O uso desses termos pode se mostrar inapropriado em face de as tecnologias digitais redimensionarem presença e ausência nos processos educacionais.
Não há educação sem presencialidade. A rigor, ninguém aprende sozinho, numa absoluta ausência do outro ou até de si mesmo. Diante de um livro ou de um conteúdo na Internet, o estudante se encontra na presença do outro, ainda que esta presença se virtualize no texto impresso ou no hipertexto eletrônico.
Quem aprende precisa estar presente, e quem facilita ou medeia o aprendizado não o faz se não estiver presente. Sem a presença dos sujeitos do processo ensino-aprendizado, não há formação de fato. Outra questão é o tipo e a qualidade da presença dos que participam desse processo.
O quanto as mídias digitais promovem a abertura ao outro? De que modo professores e alunos se apropriam da tecnologia na construção colaborativa do conhecimento? Como a ausência do aluno entediado, desmotivado e passivo em sala de aula é desafiada pelas metodologias ativas e os recursos tecnológicos?
Estas questões ou suas possíveis respostas podem oferecer indicadores e subsídios para qualificar a presença no processo educacional.
As tecnologias tornam presente aquele que está afastado, nos fazendo lembrar o que Heidegger escreveu antes da era digital: “um grande afastamento ainda não é distância”. A ubiquidade no ciberespaço proporcionada pelas mídias digitais evidencia ser possível a integração e interação daqueles que não compartilham o mesmo espaço físico.
Além disso, as tecnologias digitais conjugadas a metodologias mais ativas de aprendizagem oferecem a possibilidade de superação da ausência nos ambientes em que professores e alunos comungam o mesmo espaço e tempo.
Mas a presença das tecnologias na educação, por si mesmas, não garante presença com qualidade. Estaremos no reino da ausência toda vez que reduzirmos a educação à mera instrução programada, tratarmos a formação simplesmente como “experiência de um usuário” numa plataforma ou definirmos o aluno como cliente de serviços e consumidor de informações.
Luís Cláudio Dallier Saldanha é Diretor de Ensino do Grupo Estácio e será palestrante no GEduc 2019, durante o I Fórum EdTech. Conheça a programação e faça sua inscrição pelo site www.geduc2019.com.br