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A evasão no ensino superior: um problema persistente
A taxa de evasão na educação superior brasileira, um dos problemas persistentes nas instituições de ensino, continua registrando média anual acima dos 25%. A questão é que esse contingente representa cada vez mais uma quantidade maior de estudantes fora do sistema, causando prejuízos de diferentes montas. Enquanto em 2011 eram 1.012.182 estudantes evadidos, no ano de 2017 a taxa de evasão correspondia a 1.818.838 alunos, um aumento de 80% em apenas 6 anos. Isso significa que, em média, perde-se a cada 4 anos um volume de alunos correspondente ao total de matriculados de cada instituição de ensino superior.
Segundo o último Censo do Ensino Superior publicado no final de 2017 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), é possível apontar que 26,4% dos alunos evadiram do sistema por desistência, abandono ou trancamento de matrícula. A taxa média de evasão anual dos alunos que cursam graduação presencial, 22,1%, além de permanecer praticamente inalterada ao longo dos anos, mostrou-se bem inferior à taxa dos estudantes que cursam ensino a distância, que atingiu a marca de 45,9%. Utiliza-se como cálculo básico do percentual de alunos evadidos a comparação entre o número de alunos que estavam matriculados em um determinado ano, subtraídos os concluintes, com a quantidade de alunos matriculados no ano seguinte, subtraindo-se deste último o total dos ingressantes desse ano. Assim, mede-se a perda de alunos de um ano para outro: a evasão anual. (Silva Filho, R.L.L et al. A evasão no ensino superior brasileiro. Cadernos de Pesquisa, v.37, n. 132, p.641-659, 2007)
A evasão é um problema complexo, de muitas variáveis, atingindo negativamente as expectativas dos estudantes e de seus familiares além de impactar fortemente o setor financeiro das instituições. Nas públicas, há um custo muito grande por aluno que é desperdiçado quando ele abandona o sistema. Nas privadas, além desse custo, há a perda da mensalidade e prejuízos à imagem da instituição. Afinal, ninguém sai de uma instituição ou de um curso falando bem. A perda financeira devido ao abandono dos estudantes em 2017 pode ser estimada como sendo da ordem de R$ 18 bilhões, em média R$ 10 mil por aluno ano. Sem dúvida, esse é um dinheiro que poderia ser utilizado para a melhoria da qualidade da educação brasileira.
A taxa de evasão nas instituições públicas consegue se manter mais baixa que a média geral. Em 2017, 16,5% dos alunos desistiram de seus cursos de graduação na educação superior pública, índice que equivale a 287.433 matriculados. Essa taxa, que se mantinha em torno de 12%, deu um salto a partir de 2012, uma tendência que merece aprofundamento nos estudos. O quadro mais grave ocorre nas privadas, onde a evasão do sistema se mantém por volta dos 30%, puxada pelos estudantes de EAD. Em 2017, do total de alunos matriculados na rede privada, 1.531.405 abandonaram suas instituições. Como a quantidade de ingressantes nas instituições privadas cresce a uma velocidade bem maior que nas públicas, a tendência é de que um contingente cada vez maior de alunos deixe pelo caminho a sonho de um diploma de ensino superior.
Ainda que o motivo alegado por cerca de 40% dos estudantes que abandonam o ensino privado seja a falta de condições financeiras, essa situação na verdade pode esconder outros motivos. Ao contrário do que se costuma dizer, as condições financeiras não são as mais impactantes na decisão de abandonar o curso. Em geral, questões de engajamento do estudante na vida universitária, mau atendimento, falta de motivação e escolha errada da profissão, podem impactar fortemente na decisão de sair. O aluno que está satisfeito faz de tudo para não sair, uma vez que é a chance de sua vida em obter o diploma de formação superior. Em cursos como medicina, por exemplo, onde há grande identidade do aluno com seu curso, a taxa de evasão é extremamente baixa.
Além da evasão uma outra questão preocupante no ensino superior é a taxa de titulação dos estudantes, isto é, a comparação entre o número de concluintes atual com o volume de ingressantes de quatro anos antes, período aceito internacionalmente como médio para a formação. Essa taxa vem caindo ano a ano e o percentual de titulados em 2017 foi de 38,6%, ou seja, mais do que a metade dos ingressantes de 2014 ainda não havia concluído seu curso. Cai a titulação e, claro, aumenta a evasão. Apesar do aumento nas taxas das matrículas no ensino a distância, a queda de matriculados no presencial sinaliza uma desaceleração no sistema como um todo. Esse é um enorme problema, especialmente para um país que tem um dos mais baixos percentuais da população com nível superior. Apenas 16,3% da população entre 25 a 34 anos e 11,3% entre 55 a 64 anos tem formação superior, atrás do México, Chile e Colômbia.
Nas instituições públicas, a taxa de titulação tem sido um pouco maior que a média nacional. Em 2017, 45,8% dos matriculados concluíram seu curso no período esperado - nos anos anteriores, a maior taxa ocorreu em 2013 (48,2%). Já nas privadas, a taxa de titulação em 2017 foi de 36,9%, e o número máximo nos anos anteriores foi de 44,6% em 2013.
A taxa de titulação média brasileira é baixa se comparada com a média dos países da União Europeia, onde esse índice se aproxima de 70%, segundo relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já no Japão, 90% dos estudantes de curso superior chegam ao final no tempo esperado, e nos Estados Unidos 54% dos alunos americanos finalizam o curso no período médio estabelecido. Esses dados mostram que a dificuldade para concluir o ensino superior é uma questão comum em todo o mundo.
Com esses números pouco animadores para o sistema de ensino superior brasileiro, a pergunta que se coloca é: o que seria possível fazer para minorar essa perda de alunos? Como a evasão é um problema complexo que envolve muitos setores de uma instituição, a primeira iniciativa seria identificar as causas mais importantes e atacá-las de forma planejada. Algumas ações como 1- ensinar aos estudantes hábitos de sucesso, 2- definir pequenos objetivos a serem alcançados, 3- fazer intervenções em estudantes com dificuldade de acompanhar o curso, 4- definir o sucesso do estudante (o que se espera dele), 5- acompanhar desempenho acadêmico, frequência nas aulas e situação financeira, 6-oferecer oportunidades para o sucesso do aluno, 7- aumentar os recursos para orientação acadêmica (tutores), 8- desenvolver aprendizado colaborativo, 9- no EAD, criar material rico em conteúdo com interatividade, 10- monitorar a aprendizagem dos estudantes, 11- ter plataformas amigáveis, entre outras.
Oscar Hipólito é Professor titular da USP e VP da - Laureate Brasil e será palestrante no VIII Fórum de Captação e Retenção de Alunos, que será realizado pela HUMUS no dia 28 de agosto de 2019. Participe!
Murilo Garcia Santos, IT Trainee- Laureate Brasil.