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ARTIGOS

Gestão Educacional

O professor na gestão escolar

Tenho ouvido, muitas vezes, gestores escolares e coordenadores se queixarem da falta de comprometimento e de responsabilidade de seus professores. Quando lhes pergunto: “O que significa isso?”, normalmente ouço: “o professor não consegue controlar a sala” (referindo-se a disciplina/indisciplina dos alunos); “o professor não apresenta ideias novas.”; “o professor não se interessa efetivamente pelos seus alunos.”; “o professor não é autônomo.”; “o professor não colabora.” Parece-me que perpassa, nessas expressões, uma equação em que se delimitam territórios opostos: gestão escolar e coordenação de um lado; professores, do outro. Fico preocupada com essa minha percepção.

Conceitualmente, a análise das responsabilidades do professor só tem sentido se for conduzida a partir do conhecimento da evolução de suas competências e das conquistas de sua autonomia profissional. Questões como formação profissional, inexperiência em sala de aula, novas exigências das famílias quanto à postura da escola, assim como o cenário contemporâneo de mudanças paradigmáticas na Educação, tudo isso envolve também o professor, que hoje, parece-me que transita ainda pela busca de sua identidade. Quando me refiro à identidade, penso em algumas vertentes que considero importantes, e que creio poderem ajudar o gestor e o coordenador pedagógico a pensarem em formas de convidar os seus professores a uma reflexão sobre seu papel na escola, a partir deles mesmos:

 

As relações interpessoais;

O conhecimento e;

A convivência.

 

O que é isso?

Antes da solicitação de um pensar sobre os alunos, há que se solicitar um pensar do professor, como disse, a partir dele mesmo.

 

O trabalho com as relações interpessoais diz respeito à atitude ou à ideia que o professor tem sobre grupo, sobre colaboração, sobre a relação entre a comunidade escolar (gestor, coordenador, alunos, pais). Sabemos que nossas crenças, muitas vezes não problematizadas, competem com o novo, com a possibilidade de novas experiências, com o desfazer dos pré-conceitos que estabelecemos na vida. O professor lida com isso também. Creio caber à escola dinamizar esses aspectos com foco nos seus objetivos primordiais: a aprendizagem do aluno e sua formação de cidadania.

 

O trabalho com o conhecimento diz respeito à ideia que o professor tem sobre conteúdos, sobre a relação que ele estabelece com o desejo de conhecer.  Poderíamos perguntar para ele: “O que caracteriza uma boa aula, em tempos de Google?” 

 

O trabalho com a convivência diz respeito à ideia que o professor tem sobre viver junto em ambiente escolar; o que ele pensa sobre a organização da coletividade em sala de aula, o que quer dessa coletividade (seus alunos) para que eles se desenvolvam. Creio que precisemos resgatar o sentido do professor estar ali, naquela escola.

 

Não acredito nas fórmulas secas e sem vida das listas de como deve ser um professor, ou de que competências ele deve ter para ser de excelência.

Como nos avisou Piaget, autonomia e responsabilidade (e consequentemente comprometimento) não nos são dadas como presentes, mas conquistadas nas interações com os outros. É no próprio espaço escolar que podemos viabilizar as competências que desejamos do professor, seja em rodas de conversa e em encontros de formação.

 

Se o desejo da escola é de uma equipe autônoma, pró ativa, comprometida com o trabalho, e com tantos outros ideais, é necessário acordá-la, caso esteja adormecida.

 

Se estiver dormindo, não grite. Fale mais baixo, parafraseando o poeta Carlos Drummond de Andrade, para que ela não se assuste. Mas vá sinalizando um despertar para a imensa vastidão do mundo da escola!

 

Márcia Rosiello Zenker é consultora associada da HUMUS, educadora, professora e psicóloga.

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