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ARTIGOS

Gestão de Pessoas

Estratégia

Aquela era uma empresa moderna e democrática, dessas que incentivam o diálogo e a criatividade. Um dia, a empresa abriu duas novas vagas. Uma para chefe, outra para assistente. E apareceram dezenas de pretendentes para ambas. Aí, durante as entrevistas, entra candidato e sai candidato, e nenhum conseguia preencher os pré-requisitos essenciais determinados pela empresa. O selecionador já estava ficando preocupado. Até que chegou um candidato a chefe. E o selecionador começou fazendo a mesma pergunta de sempre:

– Por que você acha que seria um chefe eficiente?

O candidato pensou, pensou, e respondeu:

– Veja bem. Entre outras coisas, porque eu sei a diferença entre um chefe e um assistente. Ser chefe é uma questão de estratégia. Ser assistente é uma questão de comportamento.

O entrevistador pediu para o candidato ser mais específico. E ele foi:

– Por exemplo. Se o chefe deixa de fazer uma tarefa, ele é muito ocupado. Se o assistente deixa de fazer uma tarefa, ele é preguiçoso. Se o chefe demora a entregar um relatório, ele é analítico. Se o assistente demora a entregar um relatório, ele é lento. Se o chefe dá uma sugestão sobre outra área, ele mostra que tem iniciativa. Se o assistente faz a mesma coisa, ele é enxerido. Se o chefe não muda de ideia, ele é conservador. Se o assistente não muda de ideia, ele é teimoso. Mas, quando o chefe muda de opinião, ele é progressista. E quando o assistente muda de opinião, ele é volúvel. Se o chefe grita, ele demonstra autoridade. Se o assistente grita, ele é histérico.

O entrevistador estava pasmo. Tão pasmo que permitiu que o entrevistado continuasse:

– Se o chefe erra, ele é humano. Se o assistente erra, ele é distraído. Se o chefe bate papo, ele está estreitando o relacionamento interpessoal. Se o assistente bate papo, ele está enrolando. Se o chefe faz muitas ligações externas, ele está criando uma sólida rede de relacionamentos. Se o assistente faz muitas ligações externas, o chefe bota um cadeado no telefone. Se o chefe fica muito tempo na mesma posição, ele está acumulando experiência. Se o assistente fica muito tempo na mesma posição, ele vai ter problemas de coluna. Se o chefe diz que pretende um dia chegar a Presidente da empresa, ele tem ambição. Se o assistente diz que pretende um dia chegar a chefe, ele é uma ameaça.

O entrevistador finalmente se recompôs. E preveniu o candidato: tamanha sinceridade era louvável, mas, se ele continuasse a dizer aquelas coisas em entrevistas, não seria contratado como chefe por nenhuma empresa do mundo. E o candidato, humildemente, admitiu:

– É verdade. Mas o senhor deve concordar comigo que eu entendo muito bem o que é ser chefe. Não só entendo, como respeito e apoio. Por isso mesmo, qualquer chefe gostaria de ter um assistente como eu.

E o candidato conseguiu a vaga que realmente estava querendo: a de assistente. Uma simples questão de estratégia.

 

Max Gehringer é Comentarista da Rádio CBN e do Fantástico, na TV Globo, e será palestrante no GEduc 2018 - XVI CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO EDUCACIONAL.

Site: maxgehringer.com.br

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