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IGC, por detrás dos números: a Universidade Estácio de Sá

Em complemento ao texto anterior (“Considerações preliminares”), neste artigo abordo o caso específico da Universidade Estácio de Sá (UNESA). Trata-se de instituição de ensino superior privada fundada em 1970 no bairro Rio Comprido, na zona central do Rio de Janeiro. Inicia-se com uma Faculdade de Direito e hoje contempla todas as áreas do conhecimento, com mais de duas centenas de milhares de matrículas, em cursos de graduação ou de pós-graduação, ofertados nas modalidades presencial e a distância, e com cinco programas de mestrado ou doutorado com conceitos CAPES 4 ou 5. 

A história da Estácio é repleta de momentos significativos, com destaque para o pioneirismo de seu fundador, Dr. João Uchoa, que soube entender na época as demandas da classe média emergente por ensino superior, atendidas por instituições espalhadas nos moldes multicampi, ocupando os espaços educacionais, até então vazios, entre os locais de trabalho e as residências. Posteriormente à fase de controle familiar da instituição, há um capítulo importante dedicado à reestruturação promovida pelo grupo GP Investimentos, já ancorada em filosofias e procedimentos típicos de empresas de capital aberto. Por fim, merece destaque a sua história mais recente, com início ao final de dezembro de 2015, com a crise do FIES.

 

Se a história da empresa é complexa e difícil de resumir (nem seria eu a pessoa mais indicada para fazê-lo), a biografia acadêmica, medida pelos indicadores acadêmicos Índice Geral de Cursos (IGC) e Conceito Preliminar de Curso (CPC), parece ser mais clara, dado que sistematicamente progressiva e sustentável até os dias atuais. Em 2009, o IGC de 1,99 (IGC discreto 3, limite inferior) colocava a UNESA à beira de um conceito 2, considerado insatisfatório pelo MEC. Em seguida, de 2010 a 2014, a instituição apresenta um crescimento sustentável com IGC contínuos de 2,05, 2,10, 2,46, 2,46 e 2,65, respectivamente. Aquilo que era tendência até 2014 torna-se uma evidência de sucesso em 2015, quando a maioria da base geral de alunos formandos realizou o ENADE, gerando o surpreendente resultado de IGC contínuo de 3,10. Na terminologia da área, pela primeira vez, um conceito 4 “gordo”, refletindo um crescimento de 17%, o que é mais surpreendente se considerado o ciclo trianual, implicando em um crescimento real ano contra ano bem maior do que esse, se considerada somente a comparação entre os resultados de 2012 (agora descartados) com 2015. 

Instituições grandes (aquelas com centenas de milhares de matrículas) tendem, mesmo quando boas, para o conceito 3, em média. Além disso, há que se lembrar que na modalidade educação a distância (EaD) todos os polos espalhados pelo país contam como se todos os formandos estivessem no Rio de Janeiro e seus resultados são computados na UNESA. Em suma, uma instituição gigante e com metade de sua base de alunos na modalidade EaD raramente poderia sonhar com conceito 4.

 

O destaque ainda mais espetacular é que se, por ventura, levássemos em conta somente os formandos na modalidade EaD (especulativo), o resultado teria sido ainda melhor (IGC contínuo de 3,50, portanto, em direção ao conceito máximo 5).  No exercício de simulação citado acima, onde são mantidos todos os demais insumos, são excluídos os formandos presenciais, restando na graduação somente os formandos EaD, resulta que entre mais de 150 instituições credenciadas para EaD, a UNESA ficaria no IGC contínuo em quinto lugar no país. Cumpre observar que as quatro que a superam, nominalmente: FGV/Rio, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, SENAC/SP e Universidade Federal Fluminense, contaram com relativamente poucos alunos matriculados nos respectivos cursos. Todos os quatro citados com menos de vinte vezes o número de alunos da UNESA. Como responsável direto pela área de EaD na Estácio em 2015, insisto, uma vez mais, que o mérito especial da modalidade a distância é a sua capacidade potencial de conjugar qualidade com quantidade.

               

Há que se considerar também que no último resultado liberado o Índice de Diferença entre os Desempenhos observado e esperado dos formandos (IDD) foi basicamente calculado levando em conta os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) do próprio estudante, permitindo a correta aferição e na devida escala. Ou seja, anteriormente, um cálculo artificial de média era adotado por insuficiência de dados específicos, o que foi recentemente facilitado pelo grande contingente de alunos fazendo o ENEM a partir de 2010 e 2011. A adoção mais rigorosa deste indicador tende a favorecer as instituições, como a UNESA, que trabalham com ingressantes, em média, com maior deficiência de formação anterior e desfavorecer aquelas instituições que tipicamente atraem concluintes do ensino médio com relativamente melhores resultados no ENEM.

               

Isoladamente nenhum dos argumentos acima explicaria o significativo avanço observado à luz desses indicadores na UNESA. O essencial certamente foi a melhoria real da qualidade da educação ministrada, um trabalho coletivo e de longo prazo que elevou consistentemente cada indicador. Porém, outras medidas adicionais adotadas devem ser consideradas. Assim, no próximo e último artigo da trilogia destaco a relevância de terem sido especialmente considerados alguns aspectos socioemocionais dos formandos atendendo ao exame ENADE a partir de 2015.

Ronaldo Mota é Reitor da Universidade Estácio de Sá.

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