Crenças limitantes na docência
Atualmente o conceito de crenças limitantes tem sido explorado em diferentes áreas profissionais. Resumidamente tratam de interpretações e pensamentos que consolidamos como verdades e mobilizam nosso comportamento garantindo a sua materialização.
Esse conceito vem da Psicologia Comportamental: crenças irracionais. O psicólogo Albert Ellis elaborou um modelo para explicar como os eventos externos e internos poderiam ser interpretados e modulavam nosso comportamento:
A (eventos internos ou externos) + B (crenças: filtro interpretativo) = C (consequências emocionais das interpretações).
Essas crenças irracionais acabam ditando nossas emoções e decisões, organizando nosso relacionamento com o mundo e com os problemas que surgem. Ele indicou algumas crenças que são comuns entre as pessoas, veja algumas:
1. “O ser humano adulto sente uma necessidade extrema de ser amado e aprovado por praticamente todas as pessoas significativas da sociedade”.
2. “Para se valorizar, a pessoa deve ser muito competente, suficiente e capaz de realizar qualquer coisa em todos os aspectos possíveis”.
3. “Algumas pessoas são desprezíveis, más, infames e deveriam ser seriamente responsabilizadas e punidas pela sua maldade”.
4. “É terrível e catastrófico que as coisas não saiam como você gostaria que fossem”.
5. “É mais fácil evitar do que enfrentar certas responsabilidades e dificuldades da vida”.
6. “A história passada é um determinante decisivo do comportamento atual; algo que já aconteceu anteriormente e o traumatizou deve continuar a afetá-lo indefinidamente”.
7. “Você sempre tem que manter o controle e buscar a perfeição”.
O que importa não são os fatos, mas o significado que esses fatos têm para cada pessoa.
Albert Ellis
O problema das crenças irracionais é que elas estão arraigadas em nossa mente e comportamento, de forma que agimos e pensamos sem muitas vezes duvidar sobre a origem motivadora de tal ação ou pensamento.
Elas fazem parte do nosso cotidiano e regulam nossa forma de pensar e agir também no nosso trabalho. Na sala de aula, por exemplo, nós professores podemos ser tomados por algumas dessas crenças que são reproduzidas como verdades, sem nos darmos conta disto ou saber de onde surgiram.
Ser criativo na docência pressupõe rever nossas crenças históricas, a herança do fazer pedagógico e da experiência que tivemos como estudante, rompendo o legado de que "sempre foi assim".
Quais são suas crenças enquanto professor? Como elas limitam seu poder criativo para pensar aulas inovadoras?
Selecionei algumas que ouvi de professores durante a minha jornada e compartilho aqui com vocês:
1. Se os alunos não se interessam pela minha aula, é porque não gostam de aprender.
2. Quando deixo os alunos mais à vontade no processo de ensino e aprendizagem posso não ser rígido o suficiente.
3. Se minha aula não for 70% expositiva, posso ser julgado por não dar aulas.
4. Se proponho aulas muito divertidas, posso não estar preparando o aluno para um futuro mais desafiador.
5. Se eu compartilhar uma fragilidade com um colega professor, posso ser julgado como incapaz.
6. Se fizer avaliações mais difíceis os estudantes valorizarão mais a minha disciplina.
7. Como sou imigrante digital, tendo a ter menos habilidades digitais do que meus alunos.
8. A docência é uma profissão difícil e muito mal remunerada.
9. Fazer aulas inovadoras é legal, mas dá muito trabalho.
10. Utilizar elementos artísticos como música, teatro, pintura pode deixar minha aula infantilizada.
As crenças limitantes normalmente geram pensamentos rápidos e automáticos, distorcidos da realidade o que prejudica a sua identificação.
Um dos passos, ao identificar pensamentos que possam ser crenças que governam seus comportamentos, é avaliar sobre sua consistência, importância e consequência.
Então comece por:
1. Listar suas crenças docentes: o que você acredita que é ser um bom e um mau professor.
2. Questionar sua consistência, levantando hipóteses: faça a pergunta: "será?" quando tiver uma sentença formulada.
3. Identificar como elas gerenciam seus comportamentos: observe como elas aparecem no planejamento de suas aulas.
4. Vigiar sua incidência e quando ocorrem: o quanto elas dizem sobre você e fazem parte da forma como os estudantes te veem.
Karina Nones Tomelin, consultora de inovação educacional da Happy e Bedu.Tech e conselheira na Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), fará parte do Painel: A solidão docente – como oferecer uma educação continuada, ativa e inspiradora, no I Fórum A Nova Sala de Aula
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