Um olhar para o socioemocional...
Olhar, é tudo que nos restou nestes últimos tempos.... Nosso sorriso ficou coberto pelas máscaras e nossa fala, hoje “abafada”, muitas vezes incompreensível... Os olhos ganharam evidência e eu me pergunto, o que a natureza quer nos dizer através deste vírus, invisível aos olhos, mas que “entra” por nosso nariz, órgão responsável pela respiração e pela nossa boca, órgão responsável pela nossa alimentação... nos matando por onde deveríamos sobreviver.
Trago aqui algumas reflexões para compartilhar com os educadores. A “fala” sempre foi nosso maior instrumento de comunicação... e agora... precisamos recorrer a outras ferramentas que usam também muito mais os “olhos” e os “ouvidos”. São muitas telas, muitos aplicativos, muitos slides, muitos vídeos, muitos áudios, inúmeros podcasts... e além disso, você pode “falar” por meio de mensagens escritas, tão velozes, tão rápidas, que muitas vezes, deixam de lado, a emoção, os sentimentos, o afeto ...
Fomos profundamente “afetados” por este vírus que provoca mortes, tempo enorme de viver através dos aparelhos, de intubação, de isolamento e de distanciamento das pessoas que amamos, e se sobrevivemos ficamos com sequelas, algumas mais suaves e outras mais aparentes... sequelas físicas e neurológicas, mas as mais profundas são as sequelas emocionais, estas ficam por termos lidado com o estreito espaço que nos resta entre viver ou morrer.
É neste tempo de “pandemia” das emoções que estão vivendo nossos estudantes, é neste momento duro que eles precisam encontrar um “lugar seguro” para estarem, será que seus lares é este lugar? Conflito de relações, divisão de espaços de trabalho, falta de tecnologia, pais desempregados, mães sofrendo violência, lidando com a fome... falta de comida, falta de carinho, falta de amigos, falta de afeto ...
A Escola, que era até então era um lugar seguro, de acolhida, de amigos, de aprender, de ter acesso ao conhecimento, fechou.... Os professores com muito medo... a falta de segurança, a falta de estrutura, a falta de conhecimento sobre a doença, a falta da vacina, tudo afastou todos deste ambiente seguro e nos distanciou...
Mudanças... transformações... O que será que estes estudantes esperam de nós?... O que será que neste tempo de distanciamento eles aprenderam? .... Não poderemos mais voltar do mesmo jeito, com as mesmas ferramentas, com os mesmos conteúdos, com os mesmos currículos.... Como fazer para receber esta nova criança, este novo jovem afetado, transformados pela situação da pandemia e resgatar os vínculos que ficaram tênues?.... Sim! Os vínculos ficaram estremecidos, a família “tomou” muitas vezes o lugar do Professor, e a “casa” o lugar físico da escola! Como lidar com estes 2 universos que cuidam do mesmo sujeito, família e escola, e juntar sem misturar? Como resgatar a essência do trabalho de cada um? Como voltar com a comunidade escolar, respeitando este momento e reconhecendo que a escola não será mais a mesma e a família também não, as crianças e jovens serão outros e nós nunca mais seremos os mesmos.
RESET, traz nos seus 4 dias de discussão muitas possibilidades de reflexões, sobre o ONTEM, o HOJE e o AMANHÃ. É uma grande oportunidade de repensarmos nossos papeis, nossos sonhos, nossas equipes e nossas escolas. Vivemos um momento imperdível para escutar mais o que dizem as nossas crianças, os nossos jovens ...
É importante lembrarmos que nós adultos já tivemos oportunidade de ter acesso a outras histórias de pandemia, de tempos difíceis... e de resultados de superação, por exemplo a gripe espanhola, não vivemos a experiência, mas ouvimos suas histórias.... Nossos estudantes, assim como nós professores, estamos vivendo esta história hoje, estamos experimentando e sendo protagonistas deste tempo, que ficará marcado na história. Neste sentido, nossos estudantes estão muito mais inquietos do que nós porque não têm experiências de outras histórias para contar. Precisamos acalmá-los, sermos os “adultos da relação”, dar a segurança, a esperança e a força de superação. Sabemos que, muitos deles são tão pequenos que não entenderiam, mesmo que quiséssemos lhes contar, algum fato histórico de vitória, alguns não sabem ler ainda para terem acesso a histórias de superação, de conflitos, de outras epidemias ...
Neste evento RESET, disruptivo, provocativo, vamos juntos buscar novos caminhos, novas práticas, novas alternativas.
Vamos também nos escutar, experimentar nossas emoções, para então, escutar nossos estudantes e procurar entender o que eles sentem, sentir através dos olhos, das falas, das mensagens e da coragem de dizer o que eles esperam de nós educadores.
Espero vocês no dia 22 de junho às 16h30 para juntos olharmos também para as nossas emoções.
Sandra Garcia é Diretora Pedagógica e de soluções pedagógicas da Mind Lab do Brasil e Vice-Presidente do Instituto ELA – Educadoras do Brasil. Ela será mediadora no RESET – A Nova Jornada do Aluno, que acontecerá de 21 a 24 de junho, das 16h30 às 20h30. Inscreva-se GRATUITAMENTE!
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